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In Semanário - O FIGUEIRENSE, de 02 Abril/2004

REPORTAGEM

Clube Náutico: há 20 anos a sonhar (n)o mar

São cada vez mais as pessoas que, oprimidas por um quotidiano onde reina o stress e a poluição, (ambiental, sonora e até de informação), encontram no mar o merecido descanso. Não são pescadores profissionais e muitos nem sequer amadores. Mas – em escapadelas durante a semana, fins-de-semana ‘roubados’ ao sofá e aos comandos da televisão ou às grandes superfícies comerciais, ou nas férias –, é para a marina da Figueira que se dirigem. Chegam sozinhos, com amigos ou, mais comummente, com a família. Entram para os seus barcos, uns pequenos, outros maiores, e partem para passeios mais ou menos longos, repentinamente libertos das preocupações dos tempos modernos. Por umas horas, tudo é bonito, calmo ou divertido, mas relaxante. O stress ficou no cais e, diz quem sabe, enfraquece com a viagem. Quando regressam do mar, as preocupações do quotidiano podem estar à espera, mas enfrentam-se com novas forças. É o poder das águas, que os cerca de 600 sócios do CNAFF já descobriram.
Bem aqui, na Figueira da Foz.

Desde o tempo do Zé Carapau

Data de Abril de 1984 a escritura pública do Clube Náutico da Figueira da Foz (CNAFF), mas, como sempre acontece, o sonho nascera muito antes, em convívios amigáveis de entusiastas da náutica de recreio ou, por palavras mais simples, dos prazeres de andar no mar.
Miguel Amaral, o actual presidente do CNAFF, recorda que por esta altura, “em Portugal, as actividades náuticas de recreio estavam ainda numa fase muito embrionária”.
Pouco ou nada havia no país, e a Figueira, apesar das suas excepcionais condições, não era excepção. “Haveria meia dúzia de barcos na doca antiga, onde as condições eram muito rudimentares”, conta, evocando a figura do “Zé Carapau, um pescador reformado que manobrava um ‘vai-e-vem’”, que aproximava os bar-cos ou permitia que estes se afastassem da margem.

Quem vai ao mar… constrói em terra

Miguel Amaral recorda que foi num dos muitos almoços entre “a rapaziada” que o grupo se decidiu a, finalmente, constituir o clube náutico.
“Não tínhamos sede própria, mas reuníamos na Assembleia Figueirense”, explica, acrescentando que a primeira sede só surgiria cerca de dois anos depois. Era pouco mais do que um pré-fabricado de madeira, mas foi mais um passo no caminho da consolidação da associação a que preside hoje, e da qual nunca se desligou, muito embora os es-tudos o tivessem levado durante alguns anos a afastar-se da Figueira. “O tempo passou, a ‘rapaziada’ que fundou o CNAFF foi casando e constituindo família, mas a maioria, ainda hoje, 20 anos depois, continua a participar da vida do clube”, revela com orgulho indisfarçado. Mas não foi só nas vidas pessoais dos primeiros ‘cnaffistas’ que o passar do tempo operou mudanças.
“Com a melhoria das condições, o clube também teve de crescer”, prossegue. Assim, as instalações pré-fabricadas deram, há dois anos, lugar ao edifício que alberga hoje os serviços administrativos do clube, um espaço de recepção aos utentes da marina e ainda um restaurante. “Tudo isto só foi possível graças ao contributo do Instituto Portuário dos Transportes Marítimos (IPTM) e do seu responsável à época”, sublinha, congratulando-se por ter sido compreendido que “havia necessidade de aumentar as instala-ções, com uma localização mais benéfica”, tendo o IPTM cedido o espaço para o fim em causa, ou seja, para a sede.

Uma porta de entrada em Portugal

“Não me canso de repetir que esta marina é uma porta de entrada em Portugal”, afirma Miguel Amaral, que não desiste de lutar para que a marina seja cada vez mais um espaço aprazível, atractivo e funcional. “Há muitas entidades, da guarda fiscal ao serviço de estrangeiros e fronteiras, nas proximidades, e também por isso é tão importante dispor de boas condições para receber quem aqui chega”, defende, exemplificando com a recente estrutura dos balneários, “mas também o clube e o restaurante”, onde aliás, garante, “come-se muito bem e por valores muito acessíveis”. De realçar que este espaço gastronómico e de convívio é aberto a toda a população e funciona diariamente, das 10h00 às 00h00 (fora do período de Verão), ou das 9h00 à 1h00 (horário de Verão), encerrando apenas às segundas-feiras. “O local é lin-díssimo, o ambiente muito agradável, e é uma pena que as pessoas, em geral, não saibam que está aberto a qualquer pessoa, independentemente de ser ou não sócio do CNAFF”.

‘Cnaffistas’ sem barco

Dos cerca de 600 sócios do CNAFF, alguns não têm qualquer embarcação. É que há muitos outros motivos para ser sócio deste clube. “Para quem é proprietário de uma embarcação, a maior vantagem é o desconto de cerca de 20 por cento no tarifário da marina”, explica Miguel Amaral, acrescentando que os 90 novos postos de acostagem, que aumentaram para um total de 320, “ainda não chegam para responder à lista de espera, com cerca de 100 pedidos”. Mas, para quem não tem barco, o CNA-FF tem interesse por outros motivos. “Temos a escola de vela, a funcionar em duas modalidades: para crianças e para adultos”, afirma o presidente do clube, que aproveita para recordar o protocolo estabelecido com a autarquia, “que vai no sentido de, progressivamente, incorporar a vela no desporto escolar”. Para este apaixonado da náutica de recreio, e pai de dois jovens também já imbuídos do ‘bichinho’ destas actividades, o protocolo que permite às crianças do 1.º ciclo do ensino básico o contacto com a vela (sendo os custos suportados pela autarquia), “é bom mas não suficiente”.
“Os próprios conselhos executivos das escolas poderiam ter mais iniciativa”, sustenta, lamentando que, neste sector, a “Figueira da Foz ainda esteja um pouco atrasada em relação a outros locais com mar”. “É necessária uma maior sensibilidade”, conclui, adiantando que as crianças podem frequentar o curso de iniciação a partir dos sete anos, desde que saibam nadar.
“Começam por pequenas embarcações, estilo ‘Optimist’ e vão progredindo, passando da iniciação à aprendizagem e, finalmente, o aperfeiçoamento”. Mas não são só os mais novos que podem sonhar com novas e revigorantes experiências. “A iniciação para adultos tem vindo a crescer, em muito porque cada vez mais as pessoas precisam de actividades que lhes sirvam de escape para as correrias do dia-a-dia”.
Curioso também é o facto de, entre os ‘cnaffistas’ proprietários de barcos, só um ser do sexo feminino. “Mas isso não significa que não haja, ou sequer que haja pouca mulheres envolvidas na náutica de recreio… a maior parte dos sócios faz-se acompanhar da família”, explica, sorrindo ao contar que “sobretudo aos fins de semana, é um corrupio de pessoas de várias idades, crianças e até o cão”.

Um prazer para todos

Mas quem são os ‘cnaffistas’? “São pessoas oriundas de todos os estratos sociais”, garante Miguel Amaral, que conhece, bem, os sócios do ‘seu’ clube.
“Temos sócios no activo e outros que estão reformados, temos operários fabris e quadros… já não faz sentido pensar nesta actividade como sendo elitista”, defende, acrescentando que “há barcos mais caros e outros mais acessíveis”.
E de onde são os sócios do clube? “A maioria é de fora da Figueira, pessoas do interior da zona centro, que vêm à Figueira para usufruir destas condições fantásticas… que os figueirenses têm bem mais à mão, e a que, talvez por isso mesmo, não dão tanto valor”.

Exposição náutica começa hoje

Ainda que muito pudesse ser melhorado, o presidente do CNAFF não tem dúvidas: “A náutica de recreio e a pesca amadora são mercados com futuro e com muitas potencialidades. A rentabilidade é enorme, porque há cada vez mais pessoas a aderir a esta actividade, e a prova é que o número de embarcações à vela e a motor (para pesca amadora) tem também vindo a aumentar”.
A comprovar o dinamismo do sector, tem hoje início, na doca de recreio, uma exposição de embarcações de recreio e artigos náuticos. A mostra/venda prolonga-se até 11 de Abril, e integra-se no programa de comemorações dos 20 anos do CNAFF. “A exposição vai estar aberta todos os dias entre as 9h30 e as 19h00, e esperamos que contribua para divulgar esta actividade e até o espaço junto do maior número de pessoas possível”, salienta Miguel Amaral, que não esconde o desejo de ver este certame repetir-se. “Se resultar, é claro que é para continuar.
Até porque na zona centro não há nada do género, e faz falta”.

De vento em popa

Costuma dizer-se que os 20 anos são o auge da vitalidade. Ao CNAFF não falta, pelo menos, a vontade de confirmar a expectativa de que os próximos tempos sejam de consolidação de projectos e de aproveitamento das oportunidades para fazer mais e melhor. “Em termos de lazer e desporto, vamos realizar alguns eventos, nomeadamente regatas. Teremos também o regresso, com força, do XXV Grande Prémio de Motonáutica, e entre 7 e 9 de Maio, o campeonato nacional da Classe 420”, destaca Miguel Amaral.
Quanto a sonhos para o clube, passam sobretudo pela construção de uma sede de “alvenaria” e claro, pelo equilíbrio financeiro.
Para já está a ser ultimado mais um passo para a divulgação das actividades do CNA-FF: “o site na Internet deverá estar disponível em meados de Maio, e será seguramente um dos mais bem conseguidos do país”, garante sem falsas modéstias.

Andreia Gouveia